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Jovem, bonito, inteligente e discurso aparentemente progressista. Essa é a receita utilizada pelo empresariado para tentar implementar no Brasil o modelo de educação de mercado na rede pública. Podem ter milhões de lucro, caso consigam convencer a população da necessidade de privatizar a educação pública. Para essa tarefa foi escalado o economista Gustavo Ioschpe.
Além de escrever semanalmente na Revista Veja, do Grupo Abril, apresentando ideias para resolver todos os problemas da educação pública, esse rapaz acompanhou a “Blitz da Educação”, realizada recentemente pelo Jornal Nacional, da Rede Globo. Jatinho para lá, jatinho para cá, e a receita apresentada é simples: o Estado deve repassar o controle da educação para o empresariado. Mas para que isso aconteça, precisa, antes, destruir os sindicatos e enfraquecer o movimento dos professores que luta por valorização salarial, condições de trabalho e educação de qualidade social.
Como na privatização somente estuda quem pode pagar, os empresários têm o cuidado de não explicitar essa ideia, pois colocaria a população contra seus futuros projetos. Seguindo a mesma linha, seja na Globo ou nos textos escritos para Revista Veja, Gustavo Ioschpe diz, nas entrelinhas, que escola boa é a privada. Qualidade na educação, para ele, é dinheiro no bolso dos empresários.
Seguem alguns textos escritos por Ioschpe, na Veja, para entendermos melhor como pensa esse rapaz:
1- Em 1° de outubro de 2008, ele publicou o artigo “Dinheiro não compra qualidade”, em que ataca a tese defendida pelos professores de que para melhorar a educação no Brasil é preciso aumentar significativamente o salário do magistério para que se sintam motivados a ensinar melhor, tenham acesso aos bens culturais e possam ter tempo para formação continuada. Entretanto, o que defende Ioschpe?
“O problema principal dos funcionários de nossas escolas não é de motivação: é de preparo. E falta de preparo não se resolve com salário, mas com mais e melhor treinamento. Alguns defendem a idéia de que um aumento de salário atrairia novas e melhores pessoas ao magistério. Que não adianta aumentar o salário dos professores em 20% ou 30%: seria necessário dobrá-lo ou triplicá-lo, para torná-lo comparável ao salário das carreiras ditas nobres. Há dois problemas com a idéia: primeiro, não tem respaldo empírico. Segundo, mesmo que seja verdadeira, o orçamento de prefeituras e municípios simplesmente não comportaria um salto assim”.
2- Em 07 de dezembro de 2007, Ioschpe publicou o artigo “Professor não é coitado”, no qual defende que o Plano de Carreira (direitos) dos professores seja destruído pelos gestores públicos e que professor ter baixos salários é normal. Diz ele:
“O que os representantes da categoria não costumam mencionar são as vantagens da profissão: as férias longas, a estabilidade no emprego e o regime especial de aposentadoria (80% são funcionários públicos) e, sobretudo, a regulamentação frouxa. ... Há um amontoado de proteções jurídicas para que essa ausência não redunde em perda salarial – infelizmente, não conseguimos blindar o aprendizado dos alunos contra as faltas docentes.
Não é correta, também, a idéia de que os professores trabalham em estabelecimentos superlotados. Tampouco procede a idéia de que as escolas não tenham as condições mínimas de infra-estrutura para a realização de aulas. ...Certamente há muito que melhorar, mas é igualmente certo que o nosso professorado não trabalha em condições infra-estruturais sofríveis. Finalmente, a questão crucial: o salário. Há uma idéia encravada na mente do brasileiro de que professor ganha pouco, uma mixaria. É verdade que o professor brasileiro tem um salário absoluto baixo – o que se explica pelo fato de ele ser brasileiro, não professor. Somos um país pobre, com uma massa salarial baixa.
Apesar de todos esses dados estarem amplamente disponíveis, perdura a visão de que o professor é um coitado e/ou um herói, fazendo esforços hercúleos para carregar o pobre aluno ladeira acima. Longe de ser uma questão apenas semântica ou psicológica, essa caracterização do professor é extremamente daninha para o progresso do nosso ensino, porque ela emperra toda e qualquer agenda de mudança. “
3- Em 13 de fevereiro de 2008, Ioschpe publicou outro artigo intitulado “Pelo direito à ruindade”. Nesse texto, ele defende claramente a precarização do ensino superior, fazendo a defesa dos cursos aligeirados e de baixa qualidade oferecidos pelas Universidades privadas. Vejamos:
“A idéia de que os alunos são enganados não se sustenta. Quem está em idade universitária e já passou por todo o sistema de ensino, e trabalha para poder pagar suas mensalidades (dos 60 cursos de pedagogia, 57 são privados; todos os 80 de direito também), não é exatamente um ingênuo, uma criança perdida. Todas as instituições brasileiras passam por um amplo processo de avaliação, tanto externa como por meio de exames feitos pelos próprios alunos, e seus resultados estão disponíveis na internet.
Quando um aluno se matricula em um curso barato de uma instituição de pouco prestígio, ele não está atrás de uma posição de presidente de empresa ou de eminência intelectual: ele quer subir um pouco na vida, ganhar um pouco mais. Como em qualquer área, há serviços melhores e piores, com preços correspondentes. Se o aluno não está em universidade melhor, é sinal de que não tem condições intelectuais ou financeiras de chegar lá. Sem a universidade ruim, esse aluno não cursará faculdade alguma. A pergunta que faz sentido não é se seria melhor para esse aluno e para o país que ele cursasse a USP ou a faculdade da esquina. A pergunta certa: é melhor que ele curse a faculdade da esquina ou faculdade nenhuma?”
4 - Em 12 de Abril de 2011, publica mais um artigo: “É hora de peitar os sindicatos de professores”. O texto merece toda nossa reflexão para entendermos o que pensa o movimento “Todos pela Educação”. Ioschpe deixa claro que os gestores públicos devem enfrentar os sindicatos, e defende a Avaliação de Desempenho como única forma de aumento salarial, não reconhecendo a Carreira dos professores.
“A sociedade brasileira parece não reconhecer que os sindicatos de professores pensam no bem-estar de seus membros, e não no da sociedade em geral. Incorporamos a ideia de que o que é bom para o professor é, necessariamente, bom para o aluno. E isso não é verdade.
Cada vez mais a pesquisa demonstra que aquilo que é bom para o aluno na verdade faz com que o professor tenha de trabalhar mais: passar mais dever de casa, mais testes, ocupar de forma mais criativa o tempo de sala de aula, aprofundar-se no assunto que leciona. E aquilo que é bom para o professor — aulas mais curtas, maior salário, mais férias, maior estabilidade no emprego, maior liberdade para montar seu plano de aulas e para faltar ao trabalho quando for necessário — é irrelevante ou até maléfico para o aprendizado dos alunos.
Quando um sindicato se “adona” de uma categoria, a tendência é que os salários de seus membros deixem de ser um reflexo de seu mérito individual e passem a ser resultado de seu pertencimento a alguma categoria que possa ser facilmente agregável e discernível — como ter “x” anos de experiência ou ter feito uma pós-graduação, por exemplo —, pois só assim é possível estabelecer negociações salariais coletivas, para milhares de membros. E só com negociações coletivas é que se torna possível a um sindicato controlá-las. O sindicato dos professores não é nosso parceiro.... Não podemos esperar por movimentos organizados para abraçar essa causa: precisamos criar nós mesmos essa união, que será inclusive boicotada pelo status quo. “
Não é muito difícil entender Gustavo Ioschpe. Ele tem uma formação acadêmica invejável, com duas graduações por Wharton e mestrado por Yale, ambas nos Estados Unidos. Se você não entende o que isso quer dizer, bem, trata-se de um privilégio que só se consegue se seu papai ou mamãe tiver muito dinheiro. O problema de Ioschpe é que, ao falar de educação, ele se prende a sua formação de economista. Isso é um erro porque em Economia todo tipo de fenômeno é explicado por meio de estatísticas, mas em Educação isso é impraticável, principalmente num país de extremos e de realidades diferentes como o nosso.
Vale lembrar que os argumentos defendidos por Ioschpe estão sendo reproduzidos nas escolas públicas. O discurso de culpabilização dos professores por todos os problemas que passa a educação pública nacional está cada dia mais forte. O fortalecimento dos cursos de formação superior aligeirados e à distância precarizam a formação da juventude. Ioschpe defende que isso é natural, pois esses jovens não terão emprego mesmo, então para que gastar tanto com a formação deles?
Ainda no seu discurso, Ioschpe defende a necessidade de flexibilizar (acabar) os direitos dos professores das escolas públicas para que estes sejam tão escravizados quanto os professores das escolas privadas. Não reconhece a valorização salarial dos educadores como importante para melhoria da educação.
Portanto, tenhamos muita atenção quando esse rapaz aparece na Rede Globo ou escreve na Revista Veja com cara de bom moço. Ele está a serviço do movimento “Todos pela Educação” para criminalizar os professores e, no futuro, privatizar a educação pública brasileira como já fizeram no Chile.
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