Arte na Beira parte do desejo de acessar sujeitos – acessos estes, que por sua vez, disparem modos de subjetivação mais sutis, menos dominantes – engendrando-se a partir da possibilidade de produção de novos universos sensíveis. Trata-se de pensar a arte na fronteira com a produção de subjetividade. No “risco” da zona fronteiriça, há uma pergunta: como penetrar o “campo” da arte aproximando-se de um campo experimental de si mesmo? Na tentativa de margear essa questão, propõe-se um processo experimental em formato de workshop. O trabalho, permeando pelo universo corpóreo-visual, pretende lançar os participantes em propostas vivenciais, promovendo agenciamentos coletivos no campo das relações.
Pensar o desvio dentro desta proposta de trabalho, como agenciador de afetos singulares, é construir um campo para pensar a existência como processo aberto, e o corpo como dimensão de fluxos variados, de trânsitos, de afetações; o desvio enquanto possibilidade de produção de diferença, de novos modos de pensar e construir pensamentos. Na beira com a produção de subjetividade, trata-se de pensar a arte para além de seu campo delimitado, retomando uma fala de Lygia Clark “o que proponho existe já nos numerosos grupos de jovens que integram o sentido poético à sua existência, que vivem a arte ao invés de fazê-la.”
Os objetivos do workshop, residem nos dados processuais do trabalho, portanto nas próprias vivências, que articulam-se através de exercícios experimentais fronteiriços entre criação poética e re-invenção de si; e na aposta de que borrar fronteiras, trazendo conceitos do campo da arte – como o conceito de invenção – para o cotidiano, é devolver aos sujeitos a possibilidade de articular discursos a partir de uma ordem de produção, algo visceralmente reivindicado pela juventude contracultural da década de 1960. E retomando novamente Lygia Clark, que neste mesmo momento histórico, diz: “Pela primeira vez o existir consiste em uma mudança radical do mundo em vez de ser somente uma interpretação do mesmo.”
Deixar que sujeitos se instalem na ordem da produção de discursos, de verdades, de visibilidades é pensá-los para muito além das relações categóricas entre sujeitos, articulados por exemplo, nas duras noções de identidade e indivisibilidade aplicadas ao indivíduo moderno. O que propõe o projeto “Arte na Beira – Práticas Experimentais de Desvio” é que para pensar sujeitos a partir de outros pontos de vista, é preciso impeli-los à experimentação e à produção de outros modos de si, para além do que se sabe sobre si mesmo ou sobre o conceito de sujeito. Propomos um processo de trabalho a partir de cinco diferentes momentos, “No escuro do corpo”, “12 gramas de poesia”, “O peso da consciência”, “Deixe a fantasia tomar conta de você” e “Construindo situações”. Em cada um desses momentos há uma mobilidade conceitual para tecer diálogos de diferentes modos e articular as singularidades culturais, políticas e sociais, que o projeto irá acessar. Um mapeamento contínuo durante todo o processo de trabalho faz-se necessário para que o campo vivencial esteja aberto e permeável, tanto pela diversidade das quatro diferentes regiões geográficas do país, que o projeto pretende percorrer, quanto pelas singularidades de cada um dos participantes do workshop.
Interessados pelas particularidades das construções subjetivas, os propositores do “Arte na Beira”: Raíssa Ralola e Bruno Almeida, propõem campos experimentais iniciais, abertos a serem modificados no exato momento de entrada dos participantes. Daí em diante, um amplo solo de ações se apresenta como palco, e acionado em movimentos de construções, desconstruções e reconstruções, vai sendo compartilhado, entre quem inicialmente propõe e quem cria a partir das propostas. Como num jogo quase cênico, a cada novo minuto e acontecimento torna-se mais incipiente delinear propositores e participantes. Delineações estas que se tornam frágeis para pensar o caráter potente das vivências, que a partir de proposições, destinam-se a desviar e ampliar as possibilidades, a fim de que novas experiências se articulem e os participantes estejam ativamente em processo criativo, acionando dispositivos singulares nos campos das relações, invenções e afecções.
MATÉRIAS SOBRE O PROJETO:
http://www.youtube.com/watch?v=7dO8yCjZ1T0
http://www.casadajuventude.org.br/index.php?option=content&task=view&id=3375&Itemid=0
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