JANDIRA PINTO: GREVE DOS PROFESSORES DE PARIPIRANGA

"... Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando, lutando, como um cruzado, pelas causas que comovem. Elas são muitas, demais: a salvação dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária, o socialismo em liberdade, a universidade necessária. Na verdade, somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isso não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que venceram nessas batalhas."
(Darcy Ribeiro)
A você que sabe.
Certa vez, quando ainda pequena, assisti, na TV, um documentário sobre os estudantes, artistas e professores que foram perseguidos e torturados no período da Ditadura Militar.
Cenas fortes. Pessoas que não encontraram seus filhos, parentes e amigos até os dias de hoje. Chocante, para mim, que ainda era uma criança e não entendia muito bem os motivos para tamanha violência e repressão.
Mas o que me intrigava é que a luta aconteceu mesmo assim. Eles não se intimidaram, mesmo tendo partes do corpo decepadas, mesmo sofrendo as mais terríveis violências, eles continuaram. Quão emocionada relembro estas cenas. Tantos homens e tantas mulheres em sacrifício pelo bem comum, porque sentiam a necessidade de lutar pelo ideal de liberdade.
Mártires esquecidos em nossa história que morreram para transformá-la. E hoje estou aqui, sendo prova de que eles conseguiram. Tenho o direito de expressar minha opinião, garantido. Tenho o direito de manifestar minha insatisfação política garantido. Tenho o direito de reivindicar, sem sofrer qualquer penalidade, garantido. No entanto, são poucos os que fazem jus à história de luta daqueles que derramaram o sangue, no passado próximo, para que eu pudesse falar hoje.
As mudanças em nosso país que beneficiaram a população só aconteceram porque existiram (e existem) homens e mulheres de coragem que pensaram o diferente para a sociedade e lutaram por ele.
É ingênuo esperar melhorias no âmbito social sem a manifestação popular. É ingênuo acreditar que muitos dos benefícios dos quais temos hoje, que estes, sejam de iniciativa puramente governamental. Digo-lhes como quem diz uma novidade (ultrapassada): Não é! Para que tenhamos, pelo menos o direito de reivindicar, foi preciso comoção social. Luta popular. Organização da massa e muito sangue derramado.
É, no mínimo, ímprobo e falta de respeito à memória daqueles que deram a cara à tapa para defender causas nossas, que não usemos da liberdade de expressão e da consciência cidadã para manifestar e reivindicar aquilo que é nosso por direito.
É com base nessa assertiva e com convicção das afirmações supracitadas que convido os demais professores que ainda não entenderam o papel social que desempenham, que sejam exemplos. Exemplos de cidadãos que sabem. Que não esperam acontecer!
Porque até mesmo o compositor da letra musical da qual ousei parodiar: Geraldo Vandré, sofreu terríveis conseqüências para que pudéssemos (eu, você e demais cidadãos) usá-la, hoje, como um hino representativo das lutas de classe. Sendo assim, levante-se da poltrona, pegue a sua bandeira e venha defender o que é seu também!
Você que sabe, não espere acontecer!

Jandira Pinto
Professora da Rede Pública Municipal
de Paripiranga

FONTE:

http://www.politicasimaodiense.com/2010/06/jandira-pinto-greve-dos-professores-de.html