onselectstart='return false'

*

VIVA A VIDA!!!!!!!!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

"Inútil" é conceito que se aplica bem à turma da prefeitura de Aracaju

“Fique com Deus”

(Zé Ninguém conhece o Pai?)

Carlos Alberto Menezes (*)

“Inútil” é um conceito que parece se aplicar bem à turma da prefeitura de Aracaju. Muitos sabem disso. Alguns entendem, no entanto, que não é bem assim. Os que pensam deste modo se dividem em dois grupos. O primeiro grupo é constituído pelos cínicos; o segundo, pelos devotos. Os cínicos gostam de gracejar e possuem o instinto natural da gozação. Os devotos adoram puxar o saco e possuem o instinto natural da bajulação. Os cínicos sustentam sua objeção na idéia de que, aqui e acolá, ela [a turma da prefeitura] até mostra uma utilidade qualquer. Compreendem, por exemplo, que não dá para negar seu importante papel como garotos do programa de pelo menos três irmãs da construção civil. Prova disso é a concentração maciça de máquinas, homens e recursos do município no preparo urbanístico de áreas específicas da cidade. É lá onde se localizam terrenos (de propriedade daquelas empresas) que, considerados em si mesmos, isto é, separados das melhorias introduzidas, não valeriam tanto, mas que, depois disso, se tornam supervalorizados. A objeção dos devotos é diferente. Superdimensionam a utilidade da turma. Acham até que sua eficácia administrativa é superior à da turma do Déda, que, também, passou por ali.  Embora curiosas, nenhuma das objeções se sustenta. É que ambas captaram o sentido do termo “inútil” pelo lado errado. Com efeito, o uso desse termo habitualmente designa alguém incapaz, imprestável, dispensável etc. Mas esse é seu sentido comum. Num sentido diferente (e aqui empregado), o termo também serve para designar a qualidade de quem se encontra perdido, confuso, desorientado. É disso que se trata. A turma da prefeitura é inútil, não porque seja incapaz [aquela história de que o chefe dela não conseguiu se formar em medicina (apesar dos longos anos de UFS) mal encobre o preconceito bacharelesco de qualquer que seja seu narrador], mas porque tem passado a impressão de que se encontra perdida.

A percepção de que a turma se encontra perdida vem de longe. Tudo começa com o partido dela (o PCdoB). Ali é o lugar onde se cultivava antigo e atrapalhado encanto pela Albânia. A Albânia é um insignificante país dos Bálcãs, cuja economia era baseada no pastoreio de cabras e cujo sistema político apresentava como principal liderança Enver Hoxha, um paranóico ditador, acólito de Stálin e, depois, de Mao. A turma do PCdoB se derretia de fervor (sobretudo entre os anos 70 e 80 do século passado) quando defendia para o Brasil o miserável destino Albanês. Boa parte dos estudantes universitários (UFS) delirava com isso. Bem, o coração generoso dos adolescentes é assim mesmo. Sonha com a redução das desigualdades sociais, pouco importando se isso passa ou não por um destino comunista. A propósito, a imagem de ateu que acompanhou o chefe da turma da prefeitura, durante grande parte de sua vida pública, vem daí. Não havia comunista digno desse nome que não desdenhasse do sentimento religioso e de Deus. Durante a campanha pela reeleição (2008), a equipe de seu marketing político enxergou um problema nisso. A solução consistia em soterrar aquela imagem e construir outra. O caminho para tanto foi introduzir no espaço da propaganda política o tal do “fique com Deus”, bordão com o qual finalizava seus programas eleitorais no rádio e na TV.

Meus amigos achavam aquilo o fim, uma apelação sem igual e vigarista do Santo Nome. Eu tirava por menos e, meio freudianamente, meio brincando, dizia que todos têm direito à redenção, à reconciliação com o reprimido, de retornar ao Pai. Meus amigos tinham razão; eu, nenhuma. A esse respeito, o episódio do ano novo é emblemático e esclarecedor. Com efeito, no primeiro dia de cada ano, a Igreja Católica promove a festa do Bom Jesus dos Navegantes. Os padres pediram apoio da prefeitura de Aracaju (e do governo do Estado também). Queriam carro de som, palanque, essas coisas. Nada que representasse um atentado à probidade administrativa de ninguém.  A turma da prefeitura tinha aí a chance de estreitar os laços de seu chefe com a divindade, ajudando seus representantes (e o povo religioso) na terra. Mas disse “não”. Nisso, imitou o Estado, que, igualmente, negou ajuda. (Aliás, o burocrata do Estado encarregado do “não” ainda mostrou seu grau de excelência na arte de ser grosseiro ao comentar: “o que nós [do Estado] temos a ver com a festa da igreja?”). Ninguém nega que um gesto, ao reproduzir o de outrem, pode até ser efeito do acaso. Mas não é o acaso o que explica a mimese em questão. Tudo parece passar pela visão de mundo comum aos dois grupos que mandam em Aracaju e em Sergipe. Segundo essa visão, o instinto religioso do povo é o atraso da idéia de revolução da qual ainda sentem nostalgia (apesar dos negócios em que estão metidos). Eles se esquecem, no entanto, que, sem tal instinto, sem os sinos da Igreja Católica, sem a eficiência organizadora dos padres, nenhum deles teria direito nem mesmo ao exercício do mau gosto, negando aqueles que abriram o caminho [na luta contra a ditadura militar] para que chegassem lá.**

(*) Advogado, professor da UFS, doutor em Direito pela PUC-SP.

(**) Publicado no Jornal da Cidade, Aju-SE, edição de dom 10 e seg 11, 2010, B-8.

Fonte: Ne Notícias

0 comentários:

INDICADORES