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VIVA A VIDA!!!!!!!!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

VIOLÊNCIA AFASTA PROFESSORES SERGIPANOS DA SALA DE AULA

 Texto: Edjane Oliveira


Agressões físicas e verbais, falta de respeito e assaltos são alguns dos motivos que têm feito com que professores sergipanos precisem se afastar das atividades em sala de aula para tratamento médico. O estresse causado pela violência que ocorre em algumas escolas tem levado muitos desses profissionais a apresentarem sintomas de depressão. Esta doença é uma das principais responsáveis pelo afastamento dos professores da atividade em sala de aula, juntamente com problemas vocais. Segundo informações do Setor de Perícia da Secretaria de Estado da Administração (Sead), atualmente 149 professores estão de licença médica, no universo de 12 mil professores na rede estadual.


Um levantamento realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica da Rede Oficial do Estado de Sergipe (Sintese) no ano de 2006 – o Perfil das Escolas de Sergipe – mostrou que dentre os 10 principais motivos de afastamento de professores da atividade docente, 25,8% estavam vinculados a problemas no sistema nervoso, como depressão e estresse. Índice bem inferior a outros problemas relacionados mais diretamente à atividade diária em sala de aula, como problemas de garganta (15%) e ortopédicos (6,6%).


Em média, o professor de licença passa entre 30 e 60 dias afastado. A informação do Setor de Perícia da Sead é que quando eles chegam estão na fase inicial da doença, mas a maioria não retorna mais para a atividade. No período em que fica afastado, o professor é readaptado a uma nova função. Ao final da licença médica, retorna para uma nova avaliação da perícia, sendo renovada a licença na maioria dos casos e ele fica na outra atividade.


Mais de 30 anos de profissão e o professor Fernando Mendes (nome fictício), de repente foi surpreendido pelo furor de um aluno em sala de aula. “Estava aplicando uma prova numa sala de 1º ano do ensino médio, quando de repente, um aluno inconformado se levantou e começou a me agredir com palavras de baixo calão, foi até o birô e virou com tudo que tinha em cima. O pior de tudo é que a gente se sente indefeso numa situação como essa”, contou.


Mais recentemente, disse Fernando, a diretora da escola onde ensina foi ameaçada de morte por um aluno que traficava drogas no interior da escola que ficou insatisfeito com a perda do ponto de venda. Nessas três décadas de magistério, ele presenciou e ouviu muitos relatos semelhantes. “Essas ameaças acontecem cotidianamente. Há menos tempo lecionando no serviço público, a professora K.G.S também já presenciou alguns atos de violência praticados na escola onde ensina, na zona norte de Aracaju.

 
Ela mesma já foi vítima. “Fui assaltada dentro da escola e hoje evito muitas vezes ir trabalhar de carro, pois a gente não sabe quando um aluno pode se sentir ‘ofendido’ e tentar se vingar depredando nosso patrimônio adquirido com tanto sacrifício, sem contar os casos de desrespeito a que somos expostos, através de ofensas”, disse a professora, que já ensinou também em uma escola de Nossa Senhora do Socorro.


Desrespeito


Na escola onde Fernando leciona, um professor está afastado de sala de aula, por estresse causado por atritos com alunos. “Atualmente ele vive com muito medo, não consegue coordenar as ideias, vive à base de medicamentos. Hoje ele está em outra função, porque não tem mais condições de voltar a dar aula”, revelou. O professor disse não saber o que está acontecendo com a sociedade. “Os alunos estão muito rebeldes. Esta semana mesmo, vi uma turma de alunos sem aula e perguntei onde estava o professor e a resposta foi: ‘Vá ver se ele está no banheiro’, contou.


No início do ano, o Colégio Estadual 24 de Outubro foi palco de uma ação de vandalismo praticada por alunos e algumas pessoas de fora da escola. Eles jogaram lama pelo prédio e danificaram o gabinete da diretora. Segundo o Sintese, os problemas de violência mais comuns são agressões físicas e verbais, com o intuito de atingir a dignidade do professor, e assaltos.
Embora isso ocorra em vários locais, tem uma ocorrência maior em bairros mais violentos.


O diretor de Comunicação do Sintese, Roberto Silva Santos, ressaltou que por conta disso é comum o afastamento de professores de sala de aula. “A agressão afeta toda estrutura da pessoa e temos muitos professores que tiveram que ser recolocados em outros locais, pela situação que vivenciaram no exercício da profissão, principalmente pela falta de respeito do aluno para com ele”, afirmou.


Reflexo do meio


Mas para ele, a violência nas escolas é um reflexo do que acontece na sociedade. “A escola apenas recebe essa pessoa, que reproduz o que acontece em seu ambiente”. Um dos caminhos apontados por ele para que esse problema seja diminuído é a implantação da gestão democrática nas escolas. “Nós entendemos que esse é um passo importante para que o aluno se sinta parte da escola, se envolva em suas ações e se sinta responsável. E, infelizmente, hoje ele não se sente assim, já que não participa das escolhas da escola”, avaliou Roberto.


Ele ressaltou que nesse contexto de não participação das decisões a escola acaba sendo um ponto de diversão, de encontro e tudo mais, menos um local para onde ele vai estudar e do qual é parte importante e que, portanto, precisa colaborar para sua preservação como um todo.


Outra questão importante apontada pelo diretor de Comunicação do Sintese é o fato de as ações de violência de alunos contra professores acontecerem em escolas localizadas em bairros onde o desemprego é maior. Para Roberto, a falta de políticas públicas para a geração de emprego e renda contribui para isso. “Não se combate a violência nas escolas, apenas com a gestão democrática. Ela é importante, sim. Mas é preciso resolver essa questão social para, como consequência, esse outro problema ser resolvido. O Estado precisa se sentir responsável por isso”, afirmou.
Ele citou como exemplo de experiência positivo nesse sentido, o trabalho realizado pela Secretaria de Estado de Inclusão e Desenvolvimento Social (Seides), que qualifica jovens de bairros mais carentes com cursos profissionalizantes gratuitos e ao final deles, o aluno recebe um kit com as ferramentas essenciais para dar início às suas atividades. “É isso que gera emprego e renda de verdade e faz com que as pessoas estejam incluídas socialmente”, disse Roberto Silva.


Cidadania e Paz já está presente em três escolas


Criado em parceria entre a Secretaria de Estado da Educação (Seed) e Secretaria da Segurança Pública (SSP) com o objetivo de conscientizar a comunidade escolar para a prevenção de diversos tipos de violências, o Programa Cidadania e Paz nas Escolas já foi implantado em três colégios da rede estadual: no Barão de Mauá, localizado no conjunto Orlando Dantas; o Francisco Rosa, no conjunto Bugio; e no 24 de Outubro, no bairro 18 do Forte, escolas com um histórico de violência escolar.
Segundo a coordenadora executiva do Programa Cidadania e Paz nas Escolas, Djanira Montalvão da Luz, o objetivo é, através da participação coletiva com a formação de grupos de discussão permanente, diagnosticar, refletir, traçar estratégias visando elaborar uma proposta de segurança para as escolas. “São instituídos dois grupos de discussão permanente compostos pela comunidade escolar e os alunos. O primeiro elabora os planos para depois, em conjunto, avaliar e ditar ações de enfrentamento e prevenção da violência no ambiente escolar”, explicou, ressaltando que esse é um trabalho lento, mas que surte resultados.


Quase um ano depois da implantação do projeto no Colégio Estadual Barão de Mauá, o pioneiro em Sergipe, o que se tem de resultado, segundo a coordenadora, é a diminuição na ocorrência de uso e tráfico de drogas dentro da escola, um dos problemas diagnosticados na fase inicial do projeto. Além disso, outras questões como o bullying (atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo com a intenção de intimidar ou agredir outra pessoa incapaz de se defender) e a depredação do patrimônio da escola também melhoraram bastante depois do início do projeto.


“Conseguimos isso de maneira compartilhada, com a participação de alunos, professores, Conselho Tutelar, Conselho de Segurança do bairro e operadores da segurança pública”, disse a coordenadora. Para este ano, o objetivo é dar uma apoio maior às escolas onde o projeto já está sendo desenvolvido e, ao final do ano, ampliá-lo para mais um ou dois colégios.


Semana de mobilização


Na semana passada, várias escolas públicas e particulares de Sergipe participaram da semana de mobilização “Segurança com Cidadania nas Escolas”, evento que faz parte da fase preparatória 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg), cuja etapa final ocorre de 27 a 30 de agosto, em Brasília. A etapa estadual da Conferência em Sergipe acontece de 13 a 15 de julho, no Teatro Tobias Barreto e Centro de Convenções. Segundo Djanira, o objetivo da semana foi estimular os alunos, pais, professores e funcionários a propor mudanças para situações de violência enfrentadas dentro e fora do ambiente escolar.


Desde o mês de abril, já foram realizadas conferências em 10 escolas de Sergipe, nas redes privada e pública, tanto do Estado quanto do município. Da semana de mobilização participaram a Escola Municipal Freitas Brandão, os Colégios Estaduais Leandro Maciel e Barão de Mauá, em Aracaju, e as escolas Felisberto Freire e Pedro Valadares, do município de Itaporanga d’Ajuda.


Reação à tensão emocional crônica


O esforço excessivo no trabalho, pouco descanso associado a essa exposição à violência, faz com que muitos professores sejam acometidos pela síndrome de Bournot. Ela atinge principalmente professores, médicos e enfermeiros e se refere a um tipo de estresse ocupacional e institucional que acomete pessoas que têm uma relação direta e prolongada com outras pessoas. “Nas escolas onde há um índice de violência maior, além do estresse da atividade diária e o esforço excessivo, esse ambiente que não é seguro afeta muito mais o professor”, disse a coordenadora executiva do Programa Cidadania e Paz nas Escolas, Djanira Montalvão.


Definida como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto, excessivo e estressante com o trabalho, a síndrome de Bournot faz com que a pessoa perca a maior parte do interesse em sua relação com o trabalho, de forma que as coisas deixam de ter importância e qualquer esforço pessoal passa a parecer inútil. “Num grau mais avançado, a pessoa com a síndrome começa a densenvolver pânico e passa a não acreditar em nada”, afirmou.


Segundo a coordenadora Djanira Montalvão, a Secretaria de Estado da Educação (Seed), entendendo que esse problema tem atingido muitos professores, está pensando em lançar no mês de outubro, uma campanha de esclarecimento sobre a síndrome, para que tendo conhecimento, os professores possam procurar tratamento, além de ajudar os colegas a entender as pessoas que são acometidas por ela.

JORNAL DA CIDADE

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