Texto: Andréa Moura / Fotos: Jorge Henrique
“Se ele for mesmo o culpado espero que façam com ele o que fez com minha filha. É essa a justiça que espero ver”. Essa foi a declaração dada na manhã de ontem por Josefa de Jesus, 37 anos, mãe da garota Fabiana de Jesus, de nove anos – ela completaria dez no dia 2 de agosto –, ao falar sobre o genro, Wallas Costa Silva, 20 anos, principal acusado do assassinato da menina. O suspeito é pai-de-santo e convivia há três anos com a irmã da vítima, uma adolescente de 17 anos. Ele é um dos principais suspeitos de ter assassinado a garota, por conta das circunstâncias nas quais o corpo fora encontrado, dando indícios de que teria sido usado em algum tipo de ritual de magia negra. O principal suspeito foi preso na madrugada desta terça-feira pela polícia sergipana na cidade baiana de Itapicuru, na casa dos avós maternos, após várias diligências iniciadas na última sexta-feira.
De acordo com informações passadas por policiais da delegacia do município de Tobias Barreto, onde permaneceu até as primeiras horas da manhã de ontem, Wallas tentou fugir e foi capturado. Revoltada, a população local tentou invadir a delegacia e linchar o rapaz, que teve de ser removido para a carceragem do município de Lagarto. A esposa de Wallas também precisou de escolta para não ser agredida pelos populares. “Como é que ela diz que se alguém tocar num fio de cabelo dela vai cometer suicídio? É muita frescura. Pior fizeram com a pobre da irmã dela”, retrucou um dos moradores da cidade, diante da delegacia.
As primeiras informações davam conta de que o responsável pela morte da criança teria sido um adolescente de 15 anos de idade, fato que foi comentado pelo delegado Cleones dos Santos. “Todas as pessoas que falaram com a menina no dia em que ela sumiu foram ouvidas, por isso várias pessoas foram suspeitas”, disse. O corpo de Fabiana foi encontrado na última sexta-feira, num matagal localizado no conjunto Bom Jardim, em Tobias Barreto, com perfurações de arma branca, cujo tipo até ontem pela manhã não havia sido identificado. Há fortes suspeitas de que a menina tenha sofrido violência sexual.
De acordo com o delegado de Tobias Barreto, Cleones dos Santos, todos os indícios apontam para o rapaz, indícios que vão ser divulgados nesta manhã, durante entrevista coletiva na Superintendência de Polícia Civil, às 8h. Um deles é o fato do rapaz ter sumido quando o corpo foi encontrado, embora tivesse participado das buscas à menina. O delegado Cleones dos Santos também pediu a presença de uma equipe do Instituto de Criminalística para analisar duas possíveis covas encontradas na residência do acusado. A solicitação foi feita na manhã de ontem, mas até o meio dia o pedido não havia sido atendido.
Durante entrevista a uma emissora de rádio de Tobias Barreto, o delegado informou que Wallas já teve passagem pela polícia e que vem de uma família problemática, com outros parentes também já tendo se envolvido com problemas na polícia. A equipe de reportagem do JORNAL DA CIDADE esteve na Delegacia Regional de Lagarto e pediu a Cleones dos Santos para ouvir a versão do acusado sobre o fato, mas o delegado disse que esse ainda não era o momento ideal, que ele seria apresentado à imprensa durante entrevista coletiva e que nesse momento poderíamos falar com Wallas.
A mãe das garotas envolvidas no problema, Josefa de Jesus, disse que não tinha uma boa convivência com ele, que tinha apenas um contato superficial e que desconhecia o fato dele “mexer com essas coisas”, referindo-se à Umbanda, apesar de Wallas ter permissão para tais práticas, conforme a licença de alvará concedida pela Federação dos Cultos Africanos Umbandistas do Brasil, com sede em Tobias Barreto. De acordo com o documento, que estava em poder da Polícia Civil, o centro de Wallas, o Ilê Axé Ogum de Ronda e Oxum estava registrado na rua da Pedreira, no bairro Santa Rita, coincidentemente a mesma rua onde Josefa e os filhos residiam.
Apesar do endereço do centro ser em Tobias Barreto, todos os acessórios – atabaques feitos em cano PVC, cabaças, quartinhas, fios de conta e tabuleiro de búzios –, vultos de santos católicos – por conta do sincretismo religioso com a Umbanda – e de Exus estavam numa pequena casa de taipa no povoado Várzea dos Potes, em Itapicuru. A localidade era do avô de Wallas, Antônio Costa, 80 anos, que, muito triste, disse nunca ter pensado em vivenciar tal fato.
“Tem 40 anos que moro por essas bandas, minha filha, e nunca ninguém ouviu falar um ‘ai’ sobre mim. Eu e minha mulher estamos sofrendo muito com tudo isso”, comentou o lavrador aposentado, que disse ter emprestado a casa de taipa para o neto há aproximadamente 15 dias e que não imaginava que ele era ligado a rituais que mexessem com ocultismo.
“Claro que sabia que ele era pai-de-santo, mas nunca o vi fazendo mal a ninguém. Teve até uma vez que um homem pediu para que ele matasse a filha, porque estava querendo pensão, mas Wallas disse que não faria. Não acredito que tenha matado minha irmã, mas se fez, espero que lhe aconteça a mesma coisa”, declarou a companheira do acusado. Depois de terem conseguido sair da delegacia, Josefa e a filha de 17 anos foram até a casa de taipa em Itapicuru pegar alguns pertences da garota, a exemplo de roupas. “Ela agora está indo morar comigo, na rua da Pedreira”, disse Josefa de Jesus.
JORNAL DA CIDADE
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