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segunda-feira, 6 de julho de 2009

Desabrigados das chuvas invadem casas da prefeitura

Localizado às margens da foz do rio São Francisco, o município de Brejo Grande apresenta um dos piores indicadores sociais de Sergipe. A população é pobre e praticamente quase não recebe apoio por parte dos poderes públicos. Para piorar a situação, devido às fortes chuvas que caíram no início de junho, centenas de moradores dos povoados Brejão dos Negros e Saramém estão correndo risco de ficarem desabrigados, graças à força das águas que passam pelas frágeis casas de taipa, moradia mais comum na região.
Por causa do temor do desabamento das casas, muitas famílias optaram por invadir dois conjuntos habitacionais que ainda não foram concluídos e estão sendo construídos pela prefeitura em parceira com a Caixa Econômica Federal. Um destes residenciais é o Santa Rosa, que fica no povoado Brejão dos Negros.
Lá, várias casas já foram invadidas e os novos moradores alegam que não têm para onde ir. “Eu morava em uma casa de taipa, mas ela caiu, aí aluguei uma por R$ 100, mesmo sem muitas condições, mas tinha que dar um teto para os meus filhos. Nessa outra, mesmo sendo de alvenaria, a casa não era muito boa. Quando chovia molhava tudo. Nem conseguia dormir, passava a noite toda acordada, com medo. Aí, quando eles saíram para invadir aqui, eu vim junto”, justifica Cícera Vieira Alves, que tem 28 anos e é catadora de arroz.
Ela conta mais detalhes de sua realidade, que se assemelha à de centenas de famílias do município. “Na minha outra casa não tinha nem mais energia e água, que foram cortadas por falta de pagamento. Fiz meu cadastro para ver se ganhava uma casa, mas nunca saiu nada pra mim. Fico com medo deles tirarem a gente daqui. Não temos para onde ir e tenho certeza de que se qualquer um estivesse nas condições que a gente estava, faria a mesma coisa”, alega a pobre moradora.
Assim como Cícera, outros invasores justificam que não poderiam deixar os filhos ao relento, como é caso de Valdira Lopes, de 31 anos, também catadora de arroz. “Vim para cá porque morava em casa de herança, que a minha mãe deixou. Era muita gente, 11 irmãos, cada um com o seu filho. Aí peguei a minha filha e sai. Aqui, nesta casa que invadimos mora eu e minha filha. É um alívio. Peço a Deus para não aparecer ninguém para tirar a gente”, diz Valdira, sem esconder o medo de alguma retaliação por parte da prefeitura.
Mais atenção
A pescadora Ginalda dos Santos (26) diz que invadiu a casa porque o telhado de sua antiga residência corre o risco de cair. “Um futuro melhor eu sempre quis para os meus filhos. O prefeito (Carlos Ferreira) prometeu e não cumpriu, e até hoje estou esperando. Eu até pensei que com esse prefeito a gente teria mais segurança, saúde, educação e, acima de tudo, fôssemos vistos e ajudados pela administração. Mas, infelizmente, essa não é a nossa realidade”, lamenta a cidadã.
“Não tenho mãe e nem pai. O homem que convivia comigo me abandonou. Crio dois irmãos e mais meus filhos. Por isso peguei o pouco que a gente tem e trouxe para essa casa. Faço tudo sozinha. Aqui não temos água e nem energia. Pegamos água da fonte e a energia é do candeeiro ou na vela mesmo. Pelo que a gente fez, que foi invadir, sei que não vão ligar a energia e a água tão cedo. Agora, se o prefeito tiver compaixão do pobre realmente, ele não vai tirar a gente daqui”, argumenta Ginalda.
O senhor Dimas dos Prazeres dos Santos, que é pescador, diz que apesar do nome, não tem nenhum prazer em estar passando por uma situação como esta, e mostra a casa onde morava. “Aqui moravam meus filhos, minha mulher e os netos. Ao total são quatro famílias. Esse terreno era do meu pai, aí eu construí essa casa de taipa. Já moro aqui há mais de 20 anos. Sai daqui
para invadir lá, por causa dessa situação”, justifica o pescador.
Ele garante que não havia mais nenhuma condição de morar na casa de taipa. “Um pedaço da parede caiu de madrugada devido a uma forte chuva e quase atingiu meus dois netos que dormiam no chão, encostados na parede. Fiquei com medo da casa toda cair por cima dos meninos, o que seria uma tragédia, pois ia me sentir culpado se algo acontecesse com meus netos”, conta Dimas.
Erguidas
Apesar das casas estarem erguidas, o prefeito Carlinhos explica que ainda falta muito para entregar as residências adequadamente à população. De acordo com ele, a sua administração tem ciência da realidade enfrentada pelas famílias do povoado, tanto é, que em parceira com o governo do estado, está buscando cadastrar as pessoas que moram em casas de taipa, para que eles recebam futuramente residências de alvenaria erguidas pela prefeitura.
Carlinhos ainda detalha que existem duas situações a serem observadas. A primeira implica no fato dos moradores terem invadido as residências. “Invadiram as casas sem que a obra estivesse completamente construída pela empresa e entregue à prefeitura. O fato é que os serviços ainda estão em andamento e o Habite-se, documento necessário para o repasse do imóvel, ainda não foi entregue pela Caixa. Assim que finalizado, este será o primeiro ponto a ser discutido”, explica o prefeito.
Ele ainda detalha que o segundo ponto seriam as obras de infraestrutura do conjunto, que não estão prontas, e outros serviços, como a construção de fossas e a interligação do sistema de água e energia. “O fato dessas pessoas terem invadido as casas, alegando não ter onde morar, não justifica a invasão. A nossa intenção é fazer a distribuição de acordo com o cadastro que já foi feito, o que vai possibilitar àqueles que não têm onde morar, uma residência adequada. Não podemos prejudicar essas famílias, por isso procuramos a Justiça para ver como irá ficar a situação daquela comunidade”, ressalta Carlinhos.
“Afinal de contas, essas casas são para eles mesmos. Nós só estamos buscando o melhor caminho para resolver a situação”, garante o prefeito, afirmando que é preciso respeitar o “estado democrático de direito, para que se restabeleça a ordem pública”. Além das 68 casas do conjunto Santa Rosa, passam pela mesma situação os moradores do povoado Saramém, onde 100 casas foram invadidas e outras 27, que estão localizadas na rua do Sol, na sede do município.
“O médico já foi contratado”

Devido à matéria publicada pelo JORNAL DA CIDADE, edição do dia 7 de junho, com o título “Brejo Grande: saúde só existe a cada 7 dias”, onde a população do município se queixava da falta de médicos e da péssima qualidade no atendimento de saúde oferecido pela gestão municipal, o prefeito Carlinhos afirmou que já tratou de resolver o problema.
“Sabemos que existem muitas dificuldades em manter o município. Nós tivemos um momento ruim em que as equipes do PSF (Programa de Saúde Família) ainda não estavam completamente montadas. Mas, hoje, já temos um pediatra e um ginecologista e contratamos um médico para o PSF. Regularizamos a situação e todas as reclamações que apareceram na matéria já foram corrigidas. Assim que saiu a notícia tratei de sentar com a secretária de Saúde para resolver os problemas”, garante Carlinhos, enfatizando que o município dispõe de três postos de saúde: um na sede e outros dois no povoado Saramém e Brejão dos Negros.

JORNAL DA CIDADE

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